quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Texto narrativo: Crônica com discurso direto

Ao criar um longo diálogo, o cronista desenvolveu a história de dois grandes amigos que se reencontram, depois de alguns anos, e notam certas diferenças físicas um no outro. Leia a narrativa:

AMIGOS

     Os dois eram grandes amigos. Amigos de infância. Amigos de adolescência. Amigos de primeiras aventuras. Amigos de se verem todos os dias. Até mais ou menos os 25 anos. Aí, por uma destas coisas da vida - e como a vida tem coisas! - passaram muitos anos sem se ver. Até que um dia...
     Um dia se cruzaram na rua. Um ia numa direção, o outro na outra. Os dois se olharam, caminharam mais alguns passos e se viraram ao mesmo tempo, como se fosse coreografado. Tinham-se reconhecido.
     - Eu não acredito!
     - Não pode ser!
     Caíram um nos braços do outro. Foi um abraço demorado e emocionado. Deram-se tantos tapas nas costas quantos tinham sido os anos de separação.
     - Deixa eu te ver!
     - Estamos aí!
     - Mas, você está careca!
     - Pois é.
     - E aquele bom cabelo?
     - Se foi...
     - Aquela cabeleira.
     - Muito Gumex...
     - Fazia um sucesso.
     - Pois é.
     - Era cabeleira pra derrubar suburbana.
     - Muitas sucumbiram...
     - Puxa. Deixa eu ver atrás.
     Ele se virou para mostrar a careca atrás. O outro exclamou:
     - Completamente careca!
     - E você?
     - Espera aí. O cabelo está todo aqui. Um pouco grisalho, mas firme.
     - E essa barriga?
     - O que é que a gente vai fazer?
     - Boa vida...
     - Mais ou menos...
     - Uma senhora barriga.
     - Nem tanto.
     - Aposto que futebol, com essa barriga...
     - Nunca mais.
     - E você era bom, hein? Um bolão. [...]
     - Faz o quê? Vinte anos?
     - Vinte e cinco. No mínimo.
     - Você mudou um bocado.
     - Você também.
     - Você acha?
     - Careca... [...]
     - Cabelo outra vez! Mas isso já é obsessão. Eu, se fosse você, procurava um médico.
     - Vá você, que está precisando. Se bem que velhice não tem cura.
     - Quem é que é velho?
     - Ora, faça-me o favor...
     - Velho é você.
     - Você. [...]
     - Múmia!
     - Ah, é? Ah, é?
     - Cacareco! Ou será cacareca?
     - Saia da minha frente!
     Separaram-se, furiosos. Inimigos para o resto da vida.

Luis Fernando Veríssimo. Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996. (Fragmento)

No texto, um dos personagens havia ficado completamente calvo, e o outro adquiriu uma barriga avantajada. Irritados com as respectivas críticas, eles começam a discutir calorosamente, até chegar a um desentendimento total. Tornam-se eternos inimigos.
Uma das formas que a crônica pode assumir é a de uma narrativa, caracterizada pelo relato de fatos ou acontecimentos. Em sua estrutura, a narrativa pode apresentar os seguintes elementos: personagens, tempo, espaço, ação; nela, há sempre uma situação inicial e um conflito, em torno dos quais os fatos ocorrem, chegando a um clímax e um desfecho
Observe que, na narrativa lida, os fatos se desenrolam, sobretudo por meio dos diálogos, que dão movimento e rapidez à sequência de ideias. O discurso direto dá dinamismo à crônica, realçando o seu caráter episódico mais intensamente. O narrador em 3ª pessoa, de fora da cena, aparece no princípio da crônica e ressurge, rapidamente, em poucas incursões no decorrer dos fatos. A linguagem é objetiva e clara.

FONTE: SARMENTO, Leila Lauar. Português: leitura, produção, gramática. 2. ed. São Paulo. Moderna. 2006

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Como escrever bem um e-mail

Outra dica interessante retirada da Revista Língua Portuguesa, edição nº 64 de Fevereiro de 2011. Com a disseminação do "internetês", muitas pessoas acreditam que pode-se escrever de qualquer jeito pela internet que está tudo bem, usando abreviações e substituições que nem todo mundo entende. No Msn, Facebook, Orkut entre outros isso até pode valer, mas no mundo corporativo deve-se seguir algumas regrinhas básicas para não cometer erros graves, ainda mais quando o e-mail é para seu chefe. O texto abaixo é de Edgard Murano:

"As regras de ouro do e-mail
Anterior à internet, o correio eletrônico continua sendo uma das formas de comunicação mais eficazes.

Mais antigo do que a própria internet, o e-mail é uma das ferramentas mais importantes da comunicação virtual, e seu surgimento foi importante para que a rede mundial de computadores fosse aperfeiçoada e desenvolvida. A primeira troca de mensagens eletrônicas foi em 1965 e possibilitava a comunicação entre várias pessoas ao mesmo tempo.
A velocidade dessas mensagens pode ser um prato cheio para desatenções por parte de redatores, resultando em erros muitas vezes constrangedores. Para que isso não ocorra, o texto de um e-mail deve ser simples, exigindo cuidados com sua releitura e acertos no tom da mensagem.
No trabalho, onde a comunicação pode custar dinheiro ou mesmo o sucesso profissional, um e-mail deve ser redigido com toda a atenção para não dar margem a mal-entendidos. Deve priorizar três pontos: simplicidade, clareza e objetividade.
  • O vocabulário deve pertencer à linguagem usual, sem expressões rebuscadas que possam complicar a mensagem;
  • Simplicidade não pode ser sinônimo de descuido. É preciso estar atento à repetição de termos sem necessidade, abreviações obscuras ou construções truncadas;
  • Para um texto conciso e claro, basta relê-lo e cortar termos desnecessários, evitando dizer em muitas palavras o que se poderia dizer em poucas;
  • Ter em mente o receptor de sua mensagem e tentar adequar o tom, com o cuidado de reler no final o texto;
  • Cuidado com palavras mal colocadas e destinatários errados. Uma simples mensagem destinada à pessoa errada por engano pode causar graves estragos."

Ditos populares: origem e explicações

Outra pérola que encontrei na Revista Língua Portuguesa de Setembro de 2010, no nº 59 (p.22). Nesta matéria, entitulada "Mitos virtuais", fala-se do cuidado que as pessoas devem ter ao confiar em tudo que é encontrado na internet, pois muitos sites propagam mitos sobre palavras e até corrigem ditos populares consagrados. Vejamos alguns deles publicados na revista (autor: José Augusto Carvalho):

"Quem tem boca vaia Roma x Quem tem boca vai a Roma
O correto é "vai" (verbo ir), sem "vaiar". A frase vem das peregrinações a Roma, daí palavras como "romaria" e "romeiro", associadas à peregrinação.

Ter bicho no corpo inteiro x Ter bicho carpinteiro
A correta é a segunda frase, referência, pelo linguista José Leite de Vasconcelos (1858-1941), ao oxiúro, parasita que causa pruridos anais e movimentos sacudidos. 

Batatinha quando nasce... Espalha a rama pelo chão x Se esparrama pelo chão
Corrigiram o verso, a internet propagou a nova versão, mas o correto mesmo é "se esparrama pelo chão".

Quem não tem cão caça como gato x Quem não tem cão caça com gato
Caçar como gato, isto é, "sozinho". Mas o correto mesmo é "quem não tem cão caça com gato". 

Corro de burro quando foge x Cor de burro quando foge 
A primeira forma já foi sugerida por Castro Lopes (1827-1901) para "corrigir" a forma adequada, em que "burro" designa a cor vermelha que um fujão apresenta, e não o animal; de "burro" (cor), temos "borro", carneiro entre 1 a 2 anos; "borracho", pombo sem penas, pela cor avermelhada; e provavelmente "borrega" (ovelha de 1 ano).

Esculpido e encarnado x Cuspido e escarrado
Lição de Duarte Nunes de Lião, século 16: "cuspido e escarrado" veio do francês, em que cracher (escarrar) também é "identidade", daí crachat (escarro), que originou "crachá". Em inglês, spit (cuspo) é usado como identificação."

Sobre livros e bebês

Mexendo em algumas revistas que estavam no armário, comecei a folhear as edições da Revista Língua Portuguesa que tenho guardadas. Encontrei uma matéria publicada em Setembro de 2010, nº 59, em que aborda o quanto é importante que a família transmita o hábito da leitura para as crianças desde que são bebês, o que faz melhorar seu futuro desempenho escolar.

"LER PARA CRIANÇAS COM MENOS DE UM ANO MELHORA DESEMPENHO ESCOLAR FUTURO.

Quem pensa que ler para bebês é perda de tempo pode estar redondamente enganado. Estudos provam que essa prática, feita com regularidade desde a tenra infância, pode melhorar o desempenho escolar das crianças. De acordo com David Dickinson, especialista em alfabetização pela Universidade de Harvard, não se trata exatamente de ler narrativas como as de fadas para bebês com menos de um ano, mas dar-lhes livros com imagens para que folheiem.
Dickinson apresentou na última edição da Bienal do Livro de São Paulo estudos que relacionam a leitura precoce ao desenvolvimento da linguagem.
Constatou-se que crianças com menos de 3 anos, cuja família possui hábito de leitura, demonstram aos 10 anos um desempenho escolar melhor. 
(Fonte: O Estado de S.Paulo)"

sábado, 24 de dezembro de 2011

Verbos regulares e irregulares

          Quando conjugados, os verbos podem ou não apresentar variações de forma nos radicais e nas desinências. Assim, de acordo com suas flexões, são classificados em verbos regulares ou verbos irregulares. Observe alguns verbos da 2ª conjugação:

radical  terminação             radical   terminação              radical    terminação
corr      er                          viv        er                           com       er
corr       o                           viv        o                            com       o
corr       es                          viv       es                           com       es
corr       e                            viv       e                            com       e
corr       emos                      viv       emos                      com       emos
corr       eis                          viv       eis                          com       eis
corr       em                          viv       em                         com       em

     Os verbos que não apresentam alteração no radical e têm as desinências idênticas às dos verbos que seguem o modelo de sua conjugação são chamados verbos regulares. Portanto, os verbos correr, viver e comer são considerados regulares.
     Veja outros exemplos de verbos regulares:

1ª conjugação: beijar, calar, copiar, estudar, ficar, jogar, lavar, pular, tocar, etc.
2ª conjugação: aprender, bater, entender, esconder, escrever, prometer, vencer, etc.
3ª conjugação: concluir, diminuir, evoluir, exibir, incluir, possuir, etc.

     Agora, compare os seguintes verbos da 2ª conjugação:

radical   terminação           radical    terminação            radical     terminação
diz         er                        perd       er                        faz           er
dig         o                         perc        o                         faç           o
diz         es                        perd        es                       faz           es
diz         -                          perd        e                        faz            -
diz         emos                    perd        emos                  faz           emos
diz         eis                        perd        eis                      faz           eis
diz         em                        perd        em                     faz            em

     Os verbos que apresentam alterações no radical e/ou nas desinências são denominados verbos irregulares. Portanto, os verbos dizer, perder e fazer são considerados irregulares. 
     Veja outros exemplos de verbos irregulares.

1ª conjugação: dar, estar, odiar, passear, presentear, recear, semear, incendiar, etc.
2ª conjugação: caber, crer, dizer, fazer, poder, querer, ser, saber, ter, trazer, ver, etc.
3ª conjugação: cobrir, dormir, fugir, ir, medir, mentir, ouvir, pedir, sentir, vir, divertir, etc.

Fonte: SOUZA, Cássia Garcia de; CAVÉQUIA, Márcia Paganini. Linguagem criação e interação: 7º ano. 6. ed. São Paulo. Saraiva, 2009
    

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

As variedades linguísticas

     Cada um de nós começa a aprender a língua em casa, em contato com a família e com as pessoas que nos cercam. Aos poucos vamos treinando nosso aparelho fonador (os lábios, a língua, os dentes, os maxilares, as cordas vocais) para produzir sons, que se transformam em palavras, em frases e em textos inteiros. E vamos nos apropriando do vocabulário e das leis combinatórias da língua, até nos tornarmos bons usuários dela, seja para falar ou ouvir, seja para escrever ou ler.
     Em contato com outras pessoas, na rua, na escola, no trabalho, observamos que nem todos falam como nós. Isso ocorre por diferentes razões: porque a pessoa vem de outra região; por ser mais velha ou mais jovem; por possuir menor ou maior grau de escolaridade; por pertencer a grupo ou classe social diferente. Essas diferenças no uso da língua constituem as variedades linguísticas.
 
     Variedades linguísticas são as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições sociais. culturais, regionais e históricas em que é utilizada.

     Entre as variedades da língua, existe uma que tem maior prestígio: a variedade padrão. Também conhecida como língua padrão e norma culta, essa variedade é utilizada na maior parte dos livros, jornais e revistas, em alguns programas de televisão, nos livros científicos e didáticos, e é ensinada na escola. As demais variedades linguísticas - como a regional, a gíria, o jargão de grupos ou profissões (a linguagem dos policiais, dos jogadores de futebol, dos metaleiros, dos surfistas etc) - são chamadas genericamente de variedades não padrão.
         Apesar de haver muitos preconceitos sociais em relação a variedades não padrão, todas elas são válidas e têm valor nos grupos ou nas comunidades em que são usadas. Contudo, em situações sociais que exigem maior formalidade - por exemplo, uma entrevista para obter emprego, um requerimento, uma carta dirigida a um jornal ou uma revista, uma exposição pública, uma redação num concurso públicoo -, a variedade linguística exigida quase sempre é a padrão. Por isso é importante dominá-la bem.

Onde se fala melhor o português no Brasil?

           Você já deve ter ouvido esse tipo de pergunta. E também respostas como "no Maranhão", "no Rio de Janeiro", "no Rio Grande do Sul", justificadas por motivos históricos, sociais, culturais. Porém, de acordo com a visão moderna de língua, não existe um modelo linguístico que deva ser seguido, nem mesmo o português lusitano.
           Todas as variedades linguísticas regionais são perfeitamente adequadas à realidade onde surgiram. Em certos contextos, aliás, o uso de outra variedade, mesmo que seja a língua padrão, é que pode soar estranho e até não cumprir sua função essencial de comunicar.

FONTE: CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens, volume 1: ensino médio - 5. ed. - São Paulo, Atual, 2005